O deflator do PIB por Fabio Giambiagi publicado por Valor Econômico (11/2011).
“Peço licença hoje ao leitor para tratar de um assunto bastante insosso: o deflator implícito do Produto Interno Bruto (PIB). Explico imediatamente a razão da escolha de tema tão singular para meu artigo mensal nas páginas do Valor.
O motivo do meu “mergulho” no assunto está, por incrível que pareça, relacionado com a minha dedicação à temática previdenciária, já conhecida por muitos leitores. Com alguma frequência, recebo e-mails me perguntando por que os problemas que eu vaticinava para as contas do INSS não estavam se revelando tão sérios como eu supunha.
Aqui, um parêntese importante: não obstante o fato inquestionável de que o déficit do INSS diminuiu nos últimos anos, graças ao “boom” da receita, é fato por outro lado que a despesa do INSS, especificamente, que era de 6% do PIB no fim do governo FHC, atingiu 6,9% do PIB no fim do governo Lula, oito anos depois, sinal de que o problema do aumento do tamanho da conta com inativos continuou a se agravar.
Discussão em torno do deflator do PIB ajuda a entender porque o passado não pode ser projetado para o futuro
Também é verdade, porém, que entre 2006 e 2010, especificamente, tal importância relativa se manteve relativamente constante – a rigor, até caiu ligeiramente em relação aos 7% do PIB de 2006.
Uma explicação é mais ou menos óbvia: no primeiro governo Lula o crescimento médio anual foi de 3,5% e, no segundo, de 4,5%. Com um dinamismo mais intenso da economia, o pagamento a um dado número de aposentados e pensionistas pesa menos, em termos relativos, do que se o crescimento do PIB fosse mais lento. O fato em si já seria razão suficiente para encarar o futuro com cautela, uma vez que não há garantias de que o país será capaz de sustentar um crescimento médio de 4,5% durante décadas, que é o período que cabe levar em conta quando se avaliam as perspectivas da Previdência Social, onde os prazos de referência são sempre muito dilatados…”