Ricardo Hausmann: “O Brasil vive uma sucessão de diagnósticos equivocados” publicado por Época (2/2016).
“O pesquisador venezuelano diz que, para tirar a economia do buraco, o governo Dilma precisa reconhecer seus erros e trabalhar por reformas impopulares
Para voltar aos trilhos, a economia brasileira tem de superar dois obstáculos formidáveis: a falta de convicção do governo de que cometeu erros e a falta de capital político desse mesmo governo para consertar seus erros, caso os admitisse. A avaliação é do economista venezuelano Ricardo Hausmann, diretor do centro para o desenvolvimento internacional da Escola de Governo Kennedy, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. “O Brasil vive um momento difícil, de muitas lições. Resta saber se aprenderá com elas ou não”, diz o pesquisador, um crítico dos modelos econômicos inclinados ao populismo. Hausmann ganhou mais renome com a publicação do Atlas de complexidade econômica, em 2011. Ele e o físico chileno César Hidalgo criaram um método para avaliar a complexidade de grandes sistemas econômicos, como países – e, a partir daí, diagnosticar pontos fracos e definir políticas públicas. O governo de Minas Gerais contratou os dois para que eles orientassem a organização de uma base de dados sobre o Estado, concluída em 2013.
Hausmann conversou com ÉPOCA durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, onde se reuniu com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Estudioso dos entraves econômicos na América Latina, ele publicou, em 2008, o artigo “Em busca das correntes que prendem o Brasil”. Hausmann afirma que o avanço rumo a um Estado mais eficiente, desde então, foi mínimo. E que o país contou com um período de bonança internacional e um presidente com poder para fazer reformas profundas. Desperdiçou os dois. “Lula detinha um capital político gigantesco que não foi usado para tornar a economia mais sustentável”, diz.”