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Espaço fiscal como representação de poder (Valenti)

Espaço fiscal como representação de poder: uma análise da capacidade de resposta das economias sistemicamente menos relevantes durante a crise financeira global e a pandemia da covid-19 por Luiza Pecis Valenti publicado por Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2023).

O presente trabalho busca ampliar e aprofundar a discussão sobre as consequências das assimetrias de poder no Sistema Monetário e Financeiro Internacional (SMFI), focando nos desafios enfrentados pelas economias sistemicamente menos relevantes durante os períodos de crise econômica. Sabe-se que, como consequência da hierarquia monetária existente, as relações no SMFI são pautadas pelos distintos graus de poder entre os atores internacionais. Entendendo que o funcionamento desse sistema influencia as relações para com outros Estados e os graus de autonomia das economias nacionais, amplia-se a discussão a partir de uma abordagem que considera aspectos endógenos e exógenos. Dessa forma, considerando as diferenças macroeconômicas estruturais, os diferentes graus de abertura financeira e as fragilidades estruturais específicas de cada país, assume-se que a capacidade de atuação por meio de políticas fiscais dos governos nacionais varia de acordo com a posição das economias no SMFI. Assim sendo, o conceito de espaço fiscal é trabalhado a partir da elaboração do Índice Multidimensional de Espaço Fiscal (IMEF), o qual considera as duas faces do poder, a autonomia e a vulnerabilidade externa, e pressupõe que a capacidade de resposta das economias em períodos de crise está diretamente relacionada com a disponibilidade de espaço fiscal. Responde-se, assim, ao objetivo central do trabalho, o qual consiste em analisar o espaço fiscal das economias a partir da dimensão da autonomia e da vulnerabilidade externa, visando avaliar as principais características que resultaram em uma maior ou menor capacidade de resposta das economias sistemicamente menos relevantes durante a Crise Financeira Global (CFG) e a crise da COVID-19. Para a construção do IMEF, é utilizado o banco de dados cross-crountry de espaço fiscal desenvolvido pelo Banco Mundial e aplica-se a metodologia de Análise de Componentes Principais (PCA). Levando em conta tanto a análise qualitativa e teórica quanto a análise quantitativa e empírica, pode-se concluir que (I) os momentos de crise são aqueles em que os Estados são impactados de forma mais contundente pelos efeitos das assimetrias de poder e, por conta disso, as condições macroeconômicas prévias ao período do choque são relevantes para analisar a capacidade de resposta, (II) o impacto das crises para o grupo dos países sistemicamente menos relevantes não só é compreendido a partir das condições macroeconômicas internas de cada Estado, mas também do ambiente de cooperação internacional, (III) existiram diferentes configurações do SMFI nas duas crises do século XXI e as decisões e não-decisões dos Estados Unidos foram cruciais para as respostas em âmbito multilateral e que (IV) a autonomia e a vulnerabilidade externa atuam de forma autônoma, a despeito de suas relações indiretas, e, por conta disso, a análise de cada dimensão é cara para o estabelecimento de políticas macroeconômicas que mitiguem efeitos de choques econômicos. A partir dos resultados encontrados, abre-se espaço analisar de forma desagregada o IMEF a fim de propor medidas específicas a serem adotadas pelas economias sistemicamente menos relevantes que mitiguem os impactos de crises econômicas.

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