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A Montanha-Russa da Pobreza (Neri & Hecksher)

A Montanha-Russa da Pobreza por Marcelo Neri e Marcos Hecksher publicado por FGV Social (2022).

Além de prosperidade e igualdade, estabilidade é um atributo fundamental para o bem estar social. Tal como as duas primeiras se encontra em falta no caso brasileiro. Esta nota calcula em frequência mensal indicadores baseados em renda domiciliar per capita de todas as fontes normalmente disponibilizados em janelas de mensuração anuais. Propõe-se discutir as implicações dessas janelas em termos de medição de bem-estar da população e destacar suas causas, tal como a chegada da Covid-19 ao país e a adoção de novas políticas de rendas (i.e. Auxílios).

Retrato – Em termos da última fotografia anual da pobreza de 2021, 10,8% da população, cerca de 23 milhões de pessoas, estava abaixo da linha de pobreza de R$ 210 per capita. Este foi o nível mais alto da série histórica em âmbito relativo e absoluto. Tal linha, embora baixa para suprir necessidades básicas, é usada como critério de elegibilidade a algum benefício pelo Auxílio Brasil. Em termos de mudanças, a proporção de pobres em bases anuais subiu 42,11% entre 2020 e 2021, correspondendo a 7,2 milhões de novos pobres em relação a 2020, e 3,6 milhões de novos pobres em relação ao período pré-pandemia.

Mensais – As mudanças das séries de pobreza anuais no Brasil escondem no período recente flutuações com amplitude 5,7 vezes maiores observadas em séries mensais, dado o aumento de 238,5% da mesma em menos de seis meses. Esse é o salto entre o menor ponto de pobreza histórico experimentado em agosto de 2020, quando atinge 3,9%, e o ápice de 13,2% durante a interrupção do Auxílio Emergencial em março de 2021. Coincidentemente, este novo pico de pobreza equivale quase ao pico do primeiro mês da pandemia (13,3%). O último dado da série de 10,4% em novembro de 2021 é superior ao pré-pandemia e projeta tendência negativa pois incorpora os valores nominais fixados do novo Auxílio Brasil face o cenário prospectivo de inflação alta, especialmente para baixa renda.

Auxílios – A fim de entender as causas das flutuações sociais, mostramos as séries de renda domiciliar per capita média do trabalho para captar o efeito isolamento social e das transferências sociais em relação a toda a população. Essas transferências per capita saem de R$ 11,77 em fevereiro de 2020 para R$ 136,20 em julho de 2020, e caem para 13,93 em fevereiro de 2021. No último ponto da série, que já incorpora o Auxílio Brasil substituindo o Auxílio Emergencial e o Programa Bolsa Família, o valor de transferências é de R$ 19,29, ou 63,9% maior que o momento anterior à pandemia, mas apenas 14,2% do valor encontrado no ápice do Auxílio Emergencial. Incidentalmente, contas realizadas pelo FGV Social com uma linha de pobreza em torno de R$ 300 revelam um custo mensal per capita para superação de pobreza em torno de R$ 15 adicionais aos programas existentes na véspera da adoção do Auxílio Brasil.

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