Reflexões sobre a Geopolítica no contexto da quarta revolução industrial e dos novos desafios de segurança internacional por Ronaldo Gomes Carmona publicado por CEBRI (2022).
“Esta edição do tradicional Forte de Copacabana refere-se ao tema que está no “estado da arte” do debate contemporâneo sobre segurança internacional. Por isso, cabe nestas reflexões temas para uma agenda de pesquisa em desenvolvimento, formuladas a partir da base conceitual da Geopolítica, área epistêmica a qual nos vinculamos. Essas reflexões são especialmente importantes em espaços como este, dedicados à segurança internacional e organizados num formato bilateral, brasileiros e europeus, justamente dois grandes espaços geográficos que não são parte direta da contenda geopolítica principal, o que lhes permite pensar com maior autonomia.
Comecemos por uma premissa histórica: todas as revoluções industriais precedentes deflagraram mudanças no equilíbrio estratégico e no balanço de forças no sistema internacional. Sem qualquer determinismo, mas com base em disrupções próprias das revoluções industriais, pode-se dizer que há uma relação direta entre estas e trocas de guarda no sistema internacional, tendo levado, nos dois primeiros casos, a substituição da potência hegemônica e no terceiro caso, ao desfecho da Guerra Fria. Vejamos.
O domínio da base técnica que deflagrou a Primeira Revolução Industrial marca a ascensão da Inglaterra que se torna a oficina do mundo e senhora dos mares, emergindo a pax britânica por pouco mais de um século.
Na Segunda Revolução Industrial, iniciada na virada do século XIX para o XX, ocorre a emergência da Alemanha, ator principal nas duas guerras mundiais como poder desafiante, e ao mesmo tempo pavimenta a ascensão do novo hegemon, os Estados Unidos, que ao término da grande transformação, ao final da Segunda Guerra Mundial, observa o auge de seu poder relativo no mundo, até hoje mantido. A incidência da Segunda Revolução Industrial na Geopolítica, aliás, foi observada por Mackinder ao enfatizar o papel que as mudanças tecnológicas na mobilidade, sobretudo por meio das ferrovias transcontinentais, exercerão sobre o equilíbrio estratégico. Com isso, deslocava-se do mar para a terra, a centralidade do terreno sobre o qual se desenvolveria a guerra…”