O regime cambial brasileiro de 1999 a 2008 por Daniela Magalhães Prates publicado por CEPAL e Ipea (2010).
“A escolha do regime cambial, que se refere à forma de determinação da taxa de câmbio, constitui uma decisão estratégica de política econômica para os países periféricos (ou em desenvolvimento ou ainda emergentes) que se inseriram no processo de globalização financeira, a partir dos anos 1990. As políticas de câmbio administrado (fixo ou bandas cambiais), que prevaleceram nesses países até meados da década de 1990, tiveram o mérito de garantir a estabilidade da taxa de câmbio nominal, um dos preços-chave das economias capitalistas, mas se revelaram extremamente suscetíveis à apreciação real das respectivas moedas e a ataques especulativos, que culminaram em sucessivas crises financeiras na segunda metade daquela década, entre as quais a crise cambial brasileira de 1998-1999.
Após essas crises, aquelas políticas cederam lugar aos regimes de câmbio flutuante. Contudo, apesar de a maioria dos países emergentes adotar de jure este regime, “de facto” as respectivas autoridades monetárias procuram, de forma geral, deter os movimentos da taxa de câmbio mediante intervenções ativas nos mercados cambiais. Em outras palavras, o regime cambial predominante no período pós-crise constitui, na realidade, o regime de flutuação suja, com graus diferenciados de intervenção, nos quais a presença dos bancos centrais é a regra e não a exceção. Nos termos de Calvo e Reinhart (2003), esses países teriam o chamado “medo de flutuar”.
O “medo de flutuar” decorre, principalmente, de algumas características estruturais desses países, entre as quais: a maior volatilidade dos fluxos de capitais; a menor dimensão dos mercados de câmbio e financeiros vis-à-vis esses fluxos; o descasamento de moedas, associado ao acúmulo de passivos externos e internos, denominados em moeda estrangeira; o coeficiente de repasse mais elevado das variações cambiais aos preços; e a menor capacidade de ajuste do setor externo a essas variações, por causa, por exemplo, da menor diversificação das pautas de exportação (GRENVILLE, 2000; MOHANTY; SCATIGNA, 2005)…”