Novas oportunidades, velhos obstáculos por José Roberto Afonso publicado por RBCE (9/2022)
“Desde a pandemia internacional da Covid-19 até a Guerra da Ucrânia, o mundo passa por transformações estruturais profundas e rápidas. Em muitos aspectos, o Brasil poderia se beneficiar, em princípio, das novas condições e circunstâncias, tanto por ter um dos maiores mercados consumidores do mundo, como por se destacar na produção agropecuária e na geração de energia limpa, que abre perspectivas ímpares no caso do hidrogênio verde.
Desde já, o país poderia atrair muitos dos fabricantes e prestadores de mercadorias e serviços que hoje consome, mas por estarem localizados em outros países e continentes, tais importações passam a enfrentar dificuldades crescentes com a logística devido a guerras e pandemias. Também poderia aproveitar o momento para aumentar seu potencial de exportações para nações mais próximas.
O Brasil, que tem sido criticado por ser, historicamente, uma das economias mais fechadas ao comércio internacional, depara-se hoje com um cenário muito favorável, ao menos em termos de condições estruturais (à parte o curto prazo, em que inflação e juros podem derrubar o crescimento). Infelizmente, não mudaram as condições e expectativas quanto ao cenário interno, sobretudo no que respeita aos aspectos institucionais. Da forma de incidência de impostos e contribuições até o acesso ao crédito, aos juros e às subvenções, nada mudou de forma estrutural, e talvez em alguns aspectos até tenha piorado, sobretudo quando comparado aos concorrentes internacionais, que se beneficiam de reformas e políticas tributárias, fiscais e creditícias cada vez mais voltadas para fomentar exportações e substituir importações. Perigosamente, no caso do sistema tributário, algumas propostas bem intencionadas de reforma podem produzir efeito justamente inverso, como agravar o acúmulo de créditos tributários não devolvidos ou aproveitados por contribuintes, notadamente aqueles que são fortemente exportadores e investidores…”