Keynes não era keynesiano por Richard Davenport-Hires em entrevista a Veja (2019).
“O britânico John Maynard Keynes (1883-1946) é um dos titãs da história da economia. Para o historiador inglês Richard Davenport-Hines, contudo, isso é pouco para defini-lo. Com sua inteligência analítica, seu amor pela arte, sua habilidade social e sua capacidade para influir na política, ele foi um “homem universal”. Esse é o título da biografia que Davenport-Hines acaba de publicar: The Universal Man: The Seven Lives of John Maynard Keynes. O autor explorou os vastos arquivos pessoais de Keynes, depositados na Universidade de Cambridge, para explicar os motores de sua obra. E afirma que Keynes é maior que as interpretações correntes de seu pensamento. “Ele anteviu os equívocos que viriam e disse: ‘Chamo-me Keynes, mas não sou keynesiano’.”
Quase setenta anos depois de sua morte, Keynes ainda merece um papel central no pensamento econômico?
Sem sombra de dúvida. Houve um período, nos anos 80 e 90, em que se formou uma falsa imagem de Keynes como inimigo do capitalismo. Isso é um completo nonsense. Posso afirmar, pois li minuciosamente tudo o que ele escreveu, que Keynes dirigiu seus esforços para a melhora do capitalismo, não para a sua destruição ou “superação”. A crise de 2008 permitiu desfazer um pouco os equívocos e mostrou como os problemas que Keynes procurou abordar ainda são os problemas do nosso tempo. Porque aquela foi uma crise de excessos, de “exuberância irracional”, como disse o ex-presidente do banco central americano Alan Greenspan, e Keynes empenhou-se no sentido de salvar o sistema de seus paroxismos de instabilidade. Ele disse, no inicio do século passado, que a regulação financeira tinha um papel importante a desempenhar, e que a regulação global era mais necessária para a estabilidade do capitalismo do que qualquer mecanismo nacional. E tudo o que aconteceu em 2008 mostrou a importância dessa discussão. Keynes é um autor fundamental…”
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