Juros e política fiscal por Ailton Braga publicado Valor Econômico (12/2020)
“Sem padrão de crescimento dos gastos públicos sustentável, alternativa será a combinação de inflação e desemprego
Neste artigo, pretendemos contribuir com a avaliação da condução das políticas monetária e fiscal nos últimos anos, a partir da análise da evolução das taxas de juros nominais e reais e da inflação implícita derivadas dos rendimentos dos títulos públicos, de médio prazo, do governo brasileiro. Tal análise tem impactos relevantes sobre as recomendações para a condução da política econômica nos próximos meses e anos.
No gráfico, temos a taxa de juros nominal paga pelo título pré fixado de cinco anos do governo brasileiro, a taxa de juros real paga pelos títulos de mesmo prazo indexados ao IPCA, e a inflação implícita, diferença entre as taxas nominal e real, de outubro de 2013 a outubro de 2020. Lá, podemos ver que, do final de 2013 a meados de 2015, a taxa de juros nominal variou pouco, sendo em média de 12,3% ao ano, decomposta em taxa de juros real e inflação implícita em torno de 6% ao ano. Essa estabilidade escondia alguns problemas: a expectativa de inflação bem acima da meta perseguida pelo Banco Central (4,5%), indicando baixa credibilidade da autoridade monetária, e uma taxa de juros real bem maior que a observada em outros países da América Latina, como México, Colômbia, Peru e Chile.
Na segunda metade de 2015, período marcado pela crise política e econômica no segundo governo Dilma, pelo aumento da inflação e pela rápida deterioração da situação fiscal, a taxa de juros nominal teve forte alta, com aumento tanto da taxa de juros real quanto da expectativa de inflação. Ao longo do primeiro semestre de 2016, em que teve início o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a taxa de juros caiu e voltou aos níveis de 2014…”