A terceira edição da Revista Comsefaz traz ainda entrevista exclusiva com o economista José Roberto Afonso (1/2022).
“A pandemia acelerou e acentuou tendências e questões que já estavam postas na sociedade, mas que eram deixadas de lado. A questão ambiental não é nova, mas hoje virou uma emergência mundial. A questão social, dos pobres, dos miseráveis, de gênero, da desigualdade, sempre estavam postas, mas hoje não se aceita mais isso tanto no Brasil como no mundo. Não adianta você pedir empréstimo para o sistema financeiro internacional e dizer: eu sou um governo com responsabilidade fiscal. Tá bom, mas essa responsabilidade fiscal tem algum custo ambiental e social? Você tem que ter uma governança responsável, desde a questão fiscal, sanitária, democrática, tem que ter responsabilidade ambiental e social. Não basta ser só fiscalmente responsável, ter austeridade e estar fazendo isso a custo de desmatamento, da miséria e não estar combatendo esses outros males. Esses são desafios que estão postos para os governos do mundo inteiro e, no caso brasileiro, é uma agenda nova. O sistema federativo, como algumas coisas no Brasil, é 8 ou 80. Não tem nada mais descentralizado no Brasil do que a saúde, do que o SUS, e isso foi para o centro da crise. Não há a menor dúvida de que faltou comando nacional, coordenação, liderança do governo federal. E, mais do que isso, que ainda atuou no sentido do conflito. Por outro lado, a federação sobreviveu a isso. Isso é positivo e vivemos um momento histórico. Eu tenho uma federação que não se desintegrou, apesar de ela não ter líder. E, mesmo assim, temos uma resposta dos governadores, desde a questão da saúde até a questão da organização da economia e sociedade. Podia ser melhor, mas acho que é a melhor possível diante daquele contexto político, porque eles nunca se depararam com uma situação como essa, do ponto de vista sanitário e institucional. A novidade, com a pandemia, é que, desde a independência brasileira, nunca tivemos uma Federação que se postou de baixo para cima.”