Brasil em Números – Brazil in Figures publicado por IBGE (2021).
“Brasília: mito e racionalidade na trajetória da cidade modernista Brasília, no imaginário social, foi sonhada como uma grande e nova civilização. Caracterizada pelo ideário de fartura e abundância, Brasília, o paraíso dos trópicos, parece ter sido a realização da profecia do jovem padre salesiano João Bosco que prenunciou o nascimento na região de Goiás de uma grande civilização… a bordo de um lago, entre os paralelos 15º e o 20º. Brasília, a cidade modernista, berço de uma nova civilização “ dá forma e identidade a um meio geográ!co não civilizado, o Planalto Central, que será dominado e ocupado por uma raça de heróis” (HOLSTON, 1993, p.74). A cidade representa uma espécie de posse deliberada de uma terra vazia, onde o ato de desbravamento do sertão goiano recria e ordena a vida de todo o País. Brasília é uma cidade que nasce para dar uma nova imagem ao Brasil. Ela é criada para atender aos apelos da modernidade. Acossada pela lógica de um discurso modernizador a cidade encerra uma espécie de realidade capaz de consolidar um novo homem. De um “realismo milagroso” a construção da cidade determina o real pelo discurso paradoxal, onde o mítico e o racional aferram o sonho de um povo e se depara com a lucidez de um projeto. Brasília é uma imagem que se quer síntese de uma modernidade, imbricada em um país com tempo histórico heterogêneo e carregado de situações díspares de desenvolvimento. Essa duplicidade histórica arraigada na cidade moderna, situada no coração do Brasil, uma nação marcada pela contradição, permanece como um ponto cego. E é nesse ponto cego, onde se produz efeitos enigmáticos no qual convive um desenvolvimento racional e previsível e se encerra também uma metáfora da fundação. Tal dubiedade sedimenta sentidos na forma da memória discursiva fundacional…”
