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Um raio x do investimento no Brasil (IEDI)

Um raio x do investimento no Brasil publicado por IEDI (7/2020).

“O presente artigo se propôs a desenvolver uma análise de caráter estrutural da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, popularmente conhecida como investimento) da economia brasileira, com foco nas transformações ocorridas ao longo da última década. Vale ressaltar que não serão discutidos os impactos mais recentes decorrentes da crise do coronavírus eclodida no início de 2020. Embora ainda haja muita incerteza quanto aos efeitos, certamente os investimentos sofrerão uma contração expressiva neste ano, interrompendo a modesta recuperação apresentada no biênio 2018/19, após uma de suas piores crises registrada no período 2014/17.

Do ponto de vista das mudanças estruturais, o artigo destacou os impactos sobre a composição setorial do investimento oriundos das modificações metodológicas das Contas Nacionais, do papel cumprido pelo investimento público e do processo de transformação digital, um fenômeno global que também vem afetando a economia brasileira.

Em termos metodológicos, com a introdução da chamada referência 2010 das Contas Nacionais pelo IBGE em 2015 (em substituição à referência 2000), o peso relativo dos bens de capital (máquinas e equipamentos) sofreu uma queda importante, com aumento da importância da construção civil, quando comparamos o período 2000/10 nas diferentes metodologias. Dado que nos últimos 2 anos, os investimentos nos bens de capital apresentaram resultados bem melhores do que aqueles verificados na construção, este aspecto metodológico contribuiu para reduzir a velocidade de retomada.

De todo modo, uma das principais marcas estruturais do investimento realizado no período mais recente, sem dúvida, corresponde ao menor peso dos investimentos públicos. Em 2017, a participação do investimento público no PIB registrou a mínima de toda a série histórica iniciada em 1947 (1,85%). Não por acaso, também em 2017 a taxa de investimento agregado (FBCF/PIB) atingiu seu piso histórico, de 14,6%. A manutenção do investimento público em níveis ao redor de 2% do PIB após a reversão da trajetória de queda é também um dos principais responsáveis pela vagarosa e modesta recuperação dos investimentos.

Outra importante mudança estrutural do investimento, em particular na última década, e que passou a ser melhor capturada com a nova metodologia do IBGE, decorre do que podemos chamar de Revolução Digital, muitas vezes também identificada na literatura como Indústria 4.0. Uma das principais mudanças se traduziram na crescente importância dos serviços de tecnologia de informação na composição do investimento, os quais passaram a fazer parte do cálculo da FBCF na nova metodologia. Além disso, também motivadas pela dinâmica da digitalização, houve mudanças importantes na composição dos bens de capital, com maior participação dos equipamentos eletrônicos e elétricos.

Logo, a recuperação dos investimentos no período 2018/19 está, em grande medida, calcada na necessária modernização e atualização tecnológica da economia brasileira, com crescente aquisição de hardwares e softwares voltados ao processo de digitalização.

Os dados setoriais mostram que os investimentos nos equipamentos eletrônicos e elétricos apresentam um conteúdo importado superior quando comparados aos investimentos direcionado à aquisição de outros tipos de bens de capital, tais como os mecânicos e os equipamentos de transporte.

Sendo assim, a despeito de um robusto crescimento da produção interna dos serviços de tecnologia de informação, a indústria brasileira parece não apresentar competitividade suficiente para o atendimento da demanda por estes novos equipamentos eletrônicos e elétricos. A expansão nas importações dos bens de capital importado foi a principal responsável pela reversão na trajetória de queda nos investimentos no biênio 2018/19, o que ocorreu a despeito de uma brusca desvalorização da moeda brasileira e da ampla ociosidade existente no parque industrial brasileiro.

A política industrial brasileira deveria se inspirar nos casos bem-sucedidos observados nos países líderes da transformação digital, tais como EUA, Japão, Alemanha e China. Nestes, denota-se uma relação simbiótica entre a indústria dos bens de capital e os serviços de tecnologia da informação, as quais se expandiram conjuntamente nos últimos anos (ao menos até o fim de 2019).

O crescimento dos serviços digitais, de forma isolada, terá pouca capacidade de alavancar e sustentar uma trajetória de recuperação mais consistente do investimento, bem como do próprio PIB brasileiro. Caso a indústria brasileira de bens de capital siga uma trajetória de contínua deterioração, prevalecerão os ônus da digitalização. Em um contexto de já elevado nível de desemprego, a substituição do trabalho humano por algoritmos tem um grande potencial de agravar a atual situação do mercado de trabalho, aprofundando os graves problemas de insuficiência de demanda agregada vigentes na economia brasileira…”

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