Coronavírus leva ao limite o caótico sistema de saúde dos Estados Unidos publicado por El País (10/2020)
“Pandemia da covid-19 acelerou todas as contradições da saúde do país, que é a principal preocupação dos eleitores e para a qual o presidente Trump não tem um plano claro
Para se ter uma ideia do impacto do coronavírus no sistema sanitário dos Estados Unidos, basta dar uma olhada na conta de Michael Flor, um homem de 70 anos de Seattle. Seu caso ficou famoso em maio porque, sendo um dos primeiros infectados por covid-19 nos Estados Unidos, passou 62 dias à beira da morte no hospital ―29 deles com respirador― e sobreviveu. Um mês depois, seu nome voltou aos jornais porque uma conta de 1,1 milhão de dólares (cerca de 5,9 milhões de reais) chegou a sua casa. A conta tem 181 páginas em que absolutamente todos os tratamentos que recebeu e o material utilizado são detalhados até atingir o valor final: 1.122.501,04 dólares.
Flor não precisou desembolsar essa quantia porque está no Medicare, o programa de saúde pública para idosos dos Estados Unidos, de acordo com informações do Seattle Times. O gigantesco pacote de ajuda de 175 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso para combater a pandemia inclui a disponibilização de testes e tratamentos de covid-19 gratuitos para todo mundo no país. Em outras palavras, a pandemia obrigou os Estados Unidos a realizar uma espécie de experiência de saúde universal, mas limitada a uma única doença. E essa experiência está dividindo o debate sobre o sistema sanitário.
A conta de Flor é reveladora do tipo de despesas que está enfrentando um país que, até meados de outubro, já fez 64,3 milhões de exames de coronavírus. Por se tratar se um tratamento prolongado e extremo, é um caso especial. Um estudo da Fair Health publicado em julho afirmou que o preço médio do tratamento de covid-19 é de 34.662 dólares na faixa etária de 20 a 30 anos e de até 45.683 dólares no grupo de idade entre de 50 e 60 anos. Deve ser multiplicado pelos números da pandemia, que está iniciando uma terceira onda de descontrole. Nos dois picos que aconteceram até agora (abril e julho), houve mais de 60.000 pessoas internadas ao mesmo tempo. Agora são 40.000 e o número está crescendo rapidamente. Mais de 220.000 pessoas já morreram…”