Nada será como antes? publicado pela Revista Rumos Economia & Desenvolvimento (2020).
“A pandemia do novo coronavírus cobriu o mundo de incertezas. Analistas ouvidos pela Rumos avaliam seus efeitos sobre diferentes setores da economia brasileira, discutem os impactos sociais da crise e tentam projetar o futuro dos negócios e das sociedades após a humanidade vencer este desafio. POR CARMEN NERY
A pandemia do novo coronavírus criou um imperativo universal para governos e organizações tomarem medidas imediatas a fim de proteger suas populações. É o que afirma o estudo Trabalho Digital Elástico, da consultoria Accenture, que destaca que são mais de 160 países e territórios afetados e nenhuma indústria está imune ao choque provocado pela crise. Empresas de viagens e turismo já contabilizam o maior impacto desde o 11 de Setembro de 2001. Organizações de varejo e de bens de consumo sentem a falta de estoque devido a atrasos na produção e quebra de cadeias de suprimentos. Eventos globais foram todos adiados ou cancelados.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a pandemia atingiu em cheio os setores industrial, de comércio e de serviços no país. Em março – primeiro mês das medidas de isolamento social – a produção industrial despencou 9,1%. Em abril, a queda foi ainda maior e foi registrado um recuo de 18,8% frente a março. O varejo teve queda de 16,8%. Mesmo os supermercados, que haviam registrado alta de 14,6% em março, tiveram queda de 11,8% em abril. O setor de serviços recuou 11,7%, considerado o pior resultado desde 2011, como consequência das medidas de isolamento social.
O desempenho dos principais segmentos afetou diretamente os resultados do Produto Interno Bruto (PIB), que caiu 1,5% no primeiro trimestre. O índice sofreu o impacto da queda de 2,5% no consumo das famílias, de 1,6% nos serviços e 1,5% na indústria. De acordo com sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI), sete em cada dez indústrias citam a queda no faturamento entre os cinco principais efeitos da Covid-19. A inadimplência e o cancelamento de pedidos foram apontados por 45% e 44% dos entrevistados, respectivamente.
O segundo maior impacto foi a diminuição na produção. Das 1.740 empresas pesquisadas pela CNI, entre 1º e 14 de abril, 76% relataram que reduziram ou paralisaram a produção. Outras 59% estão com dificuldades para cumprir com os pagamentos correntes e 55% relataram que o acesso a capital de giro ficou mais difícil. Entre as medidas tomadas, 15% das empresas demitiram. No total, 91% das indústrias brasileiras relataram impactos negativos até abril. “Ninguém tem ideia do que vai acontecer. Trabalhávamos com três cenários para 2020. No otimista, a queda seria 0,9% e no cenário mais pessimista estimamos uma queda de até 7,3%, com empresas quebrando e saída mais demorada da crise, que será mais intensa quanto mais atrasarem as medidas do governo”, analisa Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa e competitividade da CNI.
Ele afirma que, em todo o mundo, só o governo é capaz de dar a arrancada inicial necessária para os países saírem da crise, ajudando a população e as empresas. A CNI propõe que o Brasil adote a mesma medida do Banco Central americano ao criar uma linha que compra 95% dos empréstimos dos bancos privados ao setor produtivo. Fonseca destaca que o Tesouro Nacional já está garantindo 85% dos empréstimos para a folha de pagamentos, porém uma parcela muito pequena é destinada às empresas com faturamento de até R$ 10 milhões e ainda se exige que elas tenham um contrato de folha de pagamentos com o banco. “Mas é fundamental que as medidas emergenciais do governo não aumentem o déficit fiscal”, observa Fonseca.
Para Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, as medidas fiscais e monetárias neste momento são fundamentais e se ficarem circunscritas à crise podem não trazer consequências de longo prazo, diante da retomada da agenda de reformas e da manutenção de uma política econômica consistente…”
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