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Culpa do BC ou das expectativas? (Resende)

Culpa do BC ou das expectativas? por André Lara Resende (3/2023)

“As taxas de juros no Brasil estão na berlinda. São altíssimas, não há quem discorde. A questão é saber porque. Não vamos falar dos também absurdamente altos spreads de crédito. Concentremo-nos na questão dos juros na dívida pública. Além de serem o piso para toda a estrutura de juros da economia, são os que importam para as políticas monetária e fiscal. Por que são tão altos?

Apenas refletem as expectativas dos detentores da dívida, como sustenta a grande maioria dos economistas do mercado que pontificam na mídia, ou são resultado da ação direta do Banco Central? Não se discute que o BC fixa a taxa básica, a taxa paga nas reservas bancárias no próprio BC por um dia, a taxa Selic. Este é há décadas o principal instrumento de política dos bancos centrais. Sim, afirmam aqueles que defendem a tese de que os juros são resultado das forças impessoais do mercado, mas o BC só determina a taxa de curtíssimo prazo, a taxa de um dia ou de overnight. O mercado determina os juros para os prazos mais longos, que são os que importam, tanto para o custo da dívida, quanto para as condições de crédito na economia. O BC não tem como se contrapor ao que o mercado determina em relação aos juros para prazos mais longos, para a estrutura a termo das taxas da dívida, conhecida pelo mercado e pelos que com ela têm reverencial intimidade, como “a curva”.

A curva de juros, ao contrário do que pretendem os voluntaristas heterodoxos, seria impessoal e implacável. Se o BC tentar reduzir “artificialmente” a taxa básica, as expectativas de inflação seriam “desancoradas”. As expectativas de inflação mais alta se refletiriam nas taxas longas que, ao contrário da taxa básica, se elevariam. No jargão do mercado, a curva empinaria, com os juros curtos mais baixos, mas os longos mais altos. Como é a estrutura a termo das taxas que determina o custo da dívida, o tiro sairia pela culatra, a tentativa de reduzir artificialmente os juros terminaria por eleva-los. Este é o raciocínio por trás dos que afirmam que os juros iriam cair, mas que as críticas do presidente Lula terminariam por prolongar ou até mesmo elevar as atuais taxas…”

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