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Tempo de reinventar (Afonso)

Tempo de reinventar por José R. Afonso publicado na Revista Conjuntura Econômica (2020).

 

“Não se recuperará aquilo para o qual não mais se voltará.

A crise socioeconômica desencadeada pela pandemia da Covid-19 é comparável com as piores da história, como por exemplo, aquela da Grande Depressão cujos efeitos se fizeram sentir anos para além de 1929. Esse é justamente o desafio dos governantes ao redor do mundo, evitar (ou minimizar) os impactos estruturais negativos de uma crise circunstancial.

As empresas, em sua maioria, adotarão de forma permanente medidas emergenciais para enfrentar a Covid19, como é o caso emblemático do teletrabalho.1 Falta agora os governos adotarem novas políticas públicas, a começar pela de saúde e econômica, para igualmente tratar como permanente o que era inicialmente apenas um cenário emergencial.

Há um agravante para o caso brasileiro, que, antes da chegada do corona vírus, já lidava com uma economia estagnada, mal saída de forte recessão sucedida no biênio 2015/16. Urge adotar ação estratégica para aproveitar as oportunidades criadas pela pandemia, que antecipou e aprofundou desafios já postos, mas adiados ou mesmo ignorados, como a revisão da proteção social dos trabalhadores, a digitalização da economia, a restrição ambiental e os baixos níveis de poupança e investimento.

Nesta guerra econômica pode se destacar a batalha travada pelas empresas de menor porte, que por terem grande presença em setores vulneráveis à crise (alimentação, turismo, pequeno varejo etc.), com reduzido poder e diversificação de mercado, fraca capacidade de caixa e insuficiente acesso a crédito enfrentam a possibilidade real de falência. Assim, não surpreendem os dados recentes do IBGE indicando que cerca de 522 mil empresas encerraram suas atividades em função da pandemia.2 A acentuada frustração de receita em ritmo acelerado deteriora o já frágil balanço dessas empresas, a começar pelas menores, tornando muitas inadimplentes e algumas insolventes.

No curto prazo, predominando muito mais a ótica de uma crise de oferta, era fundamental assegurar que os problemas de liquidez, decorrentes da emergência pandêmica, não desencadeassem uma ampla crise de solvência.3 Para empresas, a prioridade inicial do governo foi oferecer linhas de empréstimos favorecidas, inclusive com recursos e garantias públicas. Grande parte desse esforço, no entanto, fracassou. O Indicador de Facilidade de Acesso ao Crédito do IBRE revela o alcance restrito das medidas adotadas pelo governo no tocante à disponibilidade de crédito, a pesquisa indica que 33,8% das empresas relataram “dificuldade”, e apenas 7,7% tiveram “facilidade”.4 No mesmo sentido, estudo da FGV considerando somente os três primeiros meses da pandemia, estima que neste período a demanda de crédito não atendida para as MPEs estaria entre R$ 35 e R$ 79 bilhões…”

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