O câmbio e a dinâmica da dívida pública: limites e possibilidades da política fiscal publicado por FACAMP (11/2020).
“A pandemia do vírus corona é um choque que paralisa a oferta e a demanda de um amplo conjunto de setores e atividades. É uma crise que não advém de aspectos típicos do ciclo econômico, isto é, de descompassos entre os efeitos de expansão da capacidade e da demanda oriunda dos investimentos ou do endividamento de empresas, famílias e/ou governo ou de dificuldades no balanço de pagamentos. Embora seja um fator extraeconômico temporário, sua duração é incerta e os seus efeitos são brutais.
São terríveis os efeitos para a economia, mas com uma dose de otimismo é possível acreditar que alguns dogmas econômicos serão questionados, beneficiando, ao menos por um tempo, a qualidade do debate público. Uma evidência é que se desmilinguiu a propalada tese de que “o dinheiro do governo acabou”, que domina o debate econômico brasileiro desde 2015. Ante à incontornável necessidade de apoiar empresas e pessoas, o governo suspendeu transitoriamente as regras fiscais (teto dos gastos, resultado primário e regra de ouro). Mesmo sendo o ministro da Economia alguém tido e autoproclamado como o mais radical ultraliberal, o déficit fiscal é recorde. Paulo Guedes não virou um keynesiano, mas deu inapelavelmente razão a uma das teses do economista britânico: quando a economia entra em recessão os déficits são inevitáveis, pois caem as receitas e se elevam as despesas para minimamente amparar os atingidos.
Se hoje é óbvio que não faz sentido deixar desamparados milhões de pessoas que do dia para a noite foram impedidas de continuar trabalhando, algo parecido também deveria valer para problemas econômicos mais usuais. O desemprego involuntário é um mal recorrente e a política econômica precisa combatê-lo.
Se a máxima “o dinheiro acabou” é, ao menos por ora, letra morta, os dilemas que o governo vem enfrentando na gestão da dívida pública – em especial por conta do patamar historicamente baixo dos juros de curto prazo – repaginam o debate, trazendo a baila a questão dos limites e das formas de financiamento dos déficits fiscais…”