Home > Assuntos Econômicos > O Brasil urbano e o desastre do grande capital (Yang)

O Brasil urbano e o desastre do grande capital (Yang)

O Brasil urbano e o desastre do grande capital por Philip Yang publicado por Valor Econômico (2019).

“Nos dez últimos anos, projetos imobiliários em escala urbana tornaram-se verdadeiros pesadelos para o grande capital. As perdas acumuladas no período somam bilhões de reais e envolveram nomes consagrados do setor financeiro e imobiliário. Os fracassos foram traumáticos para a comunidade de investimento e as consequências serão sentidas por anos à frente. Ante tantos insucessos, gerou-se entre investidores qualificados verdadeira aversão a oportunidades de investimento em projetos urbanos complexos. Ou seja, o grande capital foi afugentado dos projetos de grandes escala nas cidades brasileiras.

A lista de malogros é conhecida no setor. Inclui, entre outros, investimentos em companhias e projetos como o Parque Global, a Cipasa, a Scopel, o Parque da Cidade, o Porto Maravilha. Não vem ao caso analisar aqui os detalhes de cada um dos insucessos. Para fins de debate público, no entanto, vale listar alguns dos fatores que redundaram nesse conjunto representativo de insucessos – momento errado de entrada ou saída do investimento, projetos equivocados, problemas de gestão e governança, localização ruim, desalinhamento entre expectativa de crescimento do capital financeiro versus a natureza de crescimento orgânico do setor imobiliário, a falta de uma regulamentação justa de distratos, insegurança jurídica e, não menos importante, o travamento de projetos por problemas com aprovações e licenças junto ao poder público.

Tal fato nos importa como sociedade urbana? Qual será a consequência para o Brasil dessa fuga de capitais?

A concepção e execução de projetos imobiliários em escala urbana constituem a última fronteira de possibilidades para a redução das grandes assimetrias territoriais que marcam nossas cidades: a distância entre trabalho e moradia; a desproporção entre o verde e o cinza; o contínuo espraiamento que coloca em risco nossos mananciais. Se o empreendimento imobiliário em escala urbana continuar a se revelar um péssimo negócio, o mercado imobiliário seguirá fazendo o que faz, construindo a cidade de forma fragmentária, em terrenos menores, em projetos de complexidade mais baixa, que olham apenas para dentro, sem vinculação com o entorno. Com a ausência do capital privado em projetos estruturantes, teremos certamente tecidos urbanos piores.

Estamos portanto diante de um fracasso coletivo – perdeu o mercado e perdeu a sociedade. Se o padrão permanece, perde o capital financeiro – e perde, também, e muito, a cidade.

Os liberais empedernidos terão atribuído culpa à legislação excessivamente complexa ou à regulação indevida ou, numa crítica mais rósea, terão visto no longo ciclo de recessão o maior vilão desses grandes projetos. O plantel de esquerda terá observado o fenômeno com sarcasmo e, com um sorriso de canto de boca, terá visto no tombo um bom castigo àqueles “diabos, especuladores capitalistas”. Com a ausência do capital privado em projetos estruturantes, teremos certamente tecidos urbanos piores.

Em tempos de polarização, não devemos ceder a simplificações e maniqueísmos. Uma grande cidade se faz com a construção de interesses comuns entre forças de mercado, de governo e da sociedade. E o que temos hoje é uma postura de guerra entre o setor público, privado e cívico no âmbito dos grandes projetos imobiliários…”

O que fazer do minha casa, minha vida por Philip Yang publicado por Folha de S. Paulo (2019).

“Os objetivos nobres do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e seus eventuais méritos parciais não devem obscurecer o fracasso de seu resultado global neste ano em que a iniciativa completa seu décimo aniversário: o déficit habitacional brasileiro aumentou em vez de diminuir no período, tendo saltado de 6 milhões (2009) para 7,7 milhões de moradias (2018)…”

Postagens Relacionadas