A oportunidade perdida em meio à revolução inesperada: a contribuição de Antonio Delfim Netto para a economia brasileira por Marcos Lisboa publicado por Estudos Econômicos (2020).
“Economia é arte estranha, que navega entre a academia, o debate sobre os rumos do país e a intervenção na política pública. Nenhum economista brasileiro trafegou por essas três áreas com tamanha influência como Antonio Delfim Netto.
Pode-se discordar de Delfim. Pode-se criticar muitas de suas escolhas na vida pública. A ditadura foi deplorável. Em vários momentos, discordei severamente das opções de política econômica que ele defendia com seu maneirismo usual. Mas não se pode deixar de ler Delfim.
O velho economista conhece seu ofício. Em sua longa carreira, boa parte fora da universidade, Delfim permaneceu atento à pesquisa acadêmica e a seus resultados sutis. Um dos seus esportes prediletos é criticar propostas ligeiras que desconhecem a complexidade dos casos particulares ou que são pouco embasadas pela evidência.
Mais de 60 anos depois, a sua tese de livre-docência ainda surpreende pela análise cuidadosa dos dados e dos efeitos inesperados da política de proteção do café durante a Primeira República.
Um trabalho como aquele não era esperado. O debate econômico no Brasil era dominado por teses como a da Cepal, em que havia muitas conjecturas e pouca análise empírica. “Romance em vez de economia”, dizia uma professora nos anos 1950, como me contou Delfim…”