A ‘normalidade’ é a raiz dos riscos que afligem a humanidade por Daniel Feldmann em entrevista ao IHU On-Line (6/2020).
“Para o economista, a crise pandêmica é mais um sintoma da crise perene e estrutural do capitalismo
O caos social e econômico gerado pela pandemia de covid-19 foi central para que vários economistas levantassem suas bandeiras em defesa da intervenção estatal na economia, denunciassem a precariedade do estado de bem-estar social e reivindicassem o fim da política de austeridade em defesa da ampliação das políticas públicas. Nesse contexto, políticas keynesianas são apontadas como uma alternativa para enfrentar a crise pandêmica, mas “a nossa realidade econômica e social não autoriza nada próximo ao que no passado ficou conhecido como era keynesiana”, adverte o economista Daniel Feldmann na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line.
Na avaliação dele, a adesão a medidas keynesianas ou neoliberais para enfrentar a crise atual faz com que os economistas apostem na “falsa perspectiva de que, passada a tempestade da pandemia, a máquina produtiva poderá e deverá voltar ao seu funcionamento ‘normal’ e adequado”. Ao contrário, sugere, a crise gerada pela pandemia de covid-19 deveria conduzir o debate para outra direção: o de perceber que não estamos diante de uma crise cíclica ou conjuntural, mas, sim, de “uma crise perene e estrutural que decorre do fato de o capital esbarrar em limites externos e internos”. Entre os limites externos, Feldmann destaca a destruição da natureza, da qual a crise de covid-19 é um sintoma, e entre os limites internos, ele cita a capacidade de o capital minar a sua própria base de expansão.
Independentemente de como será a atuação do Estado na economia, Daniel Feldmann acredita que “é totalmente ilusória a noção de que é possível recuperar uma forte acumulação produtiva de capital que gere ao mesmo tempo empregos, crescimento, prosperidade, justiça social etc.” Sem alterar a dinâmica da própria racionalidade capitalista, que sustenta “a lógica do valor como esteio das relações sociais”, não será possível sair do beco sem saída em que estamos. Segundo ele, o questionamento dessa racionalidade é fundamental para que haja uma mudança. “Sem atacarmos os fundamentos sociais que têm nos levado à beira de um colapso ecológico, sem atacarmos o modo de sociabilidade vigente que cada vez menos garante as condições mínimas de reprodução digna das pessoas, não é possível nenhuma reconciliação possível entre aquilo que se chama economia e a vida”, argumenta.
Nesta entrevista, o economista também reflete sobre a situação do Brasil na crise atual, menciona os riscos de uma nova crise cambial e lamenta a impossibilidade de o país deslanchar com um projeto de desenvolvimento…”
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