Quando a epidemia estiver controlada, como saberemos? por Thomas Conti (4/2020).
“O primeiro critério recomendado no guia estratégico da OMS para reabertura segura de quarentenas é o número de novos casos de coronavírus se mantiver estável ou em queda nos últimos 14 dias. Mas é muito difícil de acompanhar no Brasil. Seguem alguns problemas e minha tentativa de mostrar graficamente a posição aproximada de cada estado.
Primeiro problema é a subnotificação. Nossos 3 principais indicadores têm problemas grandes – testes positivos, internações por SRAG e declarações de óbito em cartório. Até termos dados melhores ou pesquisas com testes aleatórios na população, esse problema é insolúvel.
Precisamos então trabalhar com dados sub-ótimos. Internações por SRAG o dado é semanal e muito revisado. Declarações de óbito o registro online está muito estranho. Restam os testes positivos de novos casos e novos óbitos.
Dois problemas com esses números: todo fim de semana e feriado diminui o pessoal que atualiza os números e os casos caem, o atraso é tirado 2 dias depois. Além disso, há uma fila de testes e muitos lugares parecem despejar casos “de baciada” no dia que a fila diminui.
Como acompanhar a tendência de casos dia-a-dia em uma situação dessas? Apliquei dois tratamentos na série de tempo:
Para suavizar o preenchimento errático, ao invés do número bruto do dia, uso uma média geométrica móvel dos novos casos nos últimos 7 dias. Por exemplo, o nº de novos casos hoje passa a ser a média geométrica dos novos casos de terça passada até hoje.
Para corrigir efeito de fins de semana com menos casos e terças com muitos casos, subtraio dessa média móvel de novos casos no dia a média móvel do mesmo dia na semana passada. Quero saber se *hoje* há *mais novos casos* que no mesmo dia da semana anterior – tendência de alta.
A combinação desses dois ajustes deve servir para que erros pontuais de mensuração não tenham peso tão grande, ficando a tendência geral dos casos. Abaixo os resultados com dados até este domingo para cada estado e região brasileira. Nesses gráficos o critério da OMS apareceria como 14 barras azuis consecutivas no cenário mais seguro, ou 14 barras muito pequenas, próximas do zero, em sequência…”