Guerra das narrativas por Rubens Penha Cysne publicado no Globo (5/2016).
“A situação é difícil. O Brasil incha mas não cresce, e quando cresce não se desenvolve.
No momento observa-se, de uma lado, a narrativa de que o apoio ao impedimento da Presidente caracterizaria um golpe. Acena-se então com as mazelas antidemocráticas do período 1964-85. Do lado político oposto, constrói-se uma narrativa baseada na volta da inflação e de suas mazelas.
Sem entrar no mérito de sua pertinência ou não, tais tipos de narrativa poderiam se enquadrar na classificação “waving the bloody shirt” (mostrando a camisa ensanguentada do passado). O termo foi cunhado pelos Republicanos americanos após a Guerra da Secessão. Para conquistar votos, eles diziam que votos dados aos democratas poderiam por a perder todo o esforço de reconstrução e trazer de volta o poder escravocrata. Outro exemplo, distante no tempo e no espaço, em 1996 Felipe Gonzalez acenou com a possível volta de um retrocesso autoritário ao estilo franquista para pedir voto para o Partido Socialista espanhol. O argumento, como se observa, pode servir a qualquer tempo e a qualquer corrente política.
Precisamos de narrativas mais construtivas que estas. Que se baseiem em discussões sobre as políticas futuras e não em argumentos que gerem medos do passado. Mais focadas na história que se nutre de fatos, estruturas e causações. E menos na história que se nutre de paixões, nomes e datas. Mostrar a camisa ensanguentada do passado relega a um segundo plano o que deveria ser o efetivo objeto do debate: os planos para o futuro.”
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