Entrevista de Vinicius Botelho por Solange Monteiro – Conjuntura Econômica (2020).
“Vinícius Botelho – pesquisador associado do FGV IBRE, ex-secretário nacional nos ministérios de Desenvolvimento Social e da Cidadania
Como avalia nossa estrutura de qualificação profissional frente às mudanças estruturais no mercado de trabalho?
Se comparado com países da OCDE, o Brasil um padrão de reunir mais políticas passivas de mercado de trabalho do que ativas. Ou seja, pagamos muito mais benefício do que oferecemos serviço. O problema do lado ativo são as dificuldades em intermediação de mão- de-obra e qualificação profissional, em alinhar a formação dos trabalhadores com as necessidades do mercado de trabalho. Isso é uma dificuldade histórica do Brasil. Tivemos a experiência do Pronatec, que foi horrorosa em termos de efetividade. Tinha metas ousadas de atendimento de público, mas não foi capaz de atender dois pontos essenciais: à vinculação ente objeto dos cursos e necessidade econômica local; e a uma vinculação entre habilidades das pessoas e cursos oferecidos. Isso deixou um legado ruim para agenda de qualificação profissional no Brasil. Ficou a impressão de que é uma agenda fadada ao fracasso, sendo que já tivemos outras experiências positivas. O Supertec, por exemplo (lançado em 2017), já avançou no mapeamento da demanda de empresas. O Mdic levantava a necessidade de contratação e oferecia cursos com base nessa necessidade. E agora surgem novos programas.
São iniciativas que têm dificuldade de decolar, em termos de quantitativo de pessoas, por conta da restrição orçamentária. O orçamento foi minguando, em grande parte, pela má avaliação do histórico de políticas nessa linha. O que é ruim, pois é uma política particularmente relevante para população de mais baixa renda. O Brasil tem uma das mais altas taxas de rotatividade no mercado formal de trabalho do mundo. E essa rotatividade é concentrada trabalhadores com remuneração de menos de dois salários mínimos. Isso tudo coloca uma série de oportunidades de aprimoramento das relações de trabalho no Brasil que pode ter repercussões positivas para a pauta social…”
Verificar PDF Anexado