Economia digital, micronegócios, máxima produtividade por José Roberto R. Afonso, Geraldo Biasoto Jr., Murilo Ferreira Viana publicado por Revista Conjuntura Econômica (2/2020).
“A economia digital não apenas mudou a forma como vivemos e fazemos negócios, mas também revisitará as medidas econômicas para dimensioná-las e avaliá-las, o que resultará na definição de novos conceitos e até mesmo teorias. Em meio ao turbilhão de transformações tão radicais e abruptas, é naturalmente muito difícil para os analistas deixarem de lado as ideias e as mensurações em que foram formados e que usaram por décadas para tentar arriscar a entender e a construir novos indicadores para repensar o que ainda está para mudar.
É típico desse cenário o caso de se medir e pensar a produtividade, sobretudo a do trabalho, cujos indicadores e teorias foram construídos quando sempre se contratava trabalhadores como empregados, com carteira assinada, e quando o capital era formado por ativos imóveis e bem tangíveis, como fábricas, máquinas, equipamentos e construções. Cada vez mais se trabalha sem emprego e cada vez mais o grande capital é formado por bens intangíveis. No dia a dia da vida dos economistas já se vive nesse novo e diferente mundo. Porém, quando trabalham a pensar em produtividade, ainda não se desvencilharam do pensamento moldado num passado que não se repetirá no futuro.
A revolução digital tem transformado, de forma profunda, não apenas o modo de viver das pessoas, com o surgimento de empresas como Airbnb, Uber, WhatsApp e Amazon, mas também tem levado a significativas mudanças nas estruturas de mercado (se é que elas ainda existem da forma como as conhecíamos), nas relações intersetoriais e no ambiente concorrencial.
Os efeitos da revolução digital sobre o ambiente corporativo vão muito além destas e outras empresas que também modificaram seus mercados de forma drástica, derrubando barreiras à entrada e levando à contestabilidade de mercados anteriormente consolidados ou, ainda, criando mercados completamente novos por meio de inovações radicais. O surgimento e o avanço de tecnologias como big data, inteligência artificial, computação em nuvem, entre outros inúmeros exemplos, são alguns dos componentes da nova economia digital e possuem grande potencial para alavancar, e muito, a produtividade de empresas e setores de economias avançadas ou mesmo em desenvolvimento.1
Os impactos destes elementos no crescimento da produtividade das empresas e dos sistemas econômicos são ainda pouco mensuráveis e sua prospecção é altamente complexa2.
Para efeito de grandeza, em estudo elaborado pela McKinsey,3 estimou-se, para os Estados Unidos e a Europa Ocidental, um crescimento potencial da produtividade de 2% ao ano, entre 2015 e 2025. As oportunidades geradas pela tecnologia digital seriam responsáveis por 60% desse incremento de produtividade, sendo o restante distribuído entre todos os outros elementos que sempre impulsionaram o aumento da produtividade das economias centrais.
O potencial transformador da economia digital ainda se encontra em estágio inicial (vide Gráfico 1). Nos Estados Unidos, por exemplo, país de origem de boa parte das maiores empresas de tecnologia, a fração de realização potencial da digitalização da economia é de apenas 18%. Se os países centrais ainda percorreram muito pouco do caminho aberto pela revolução digital, o caso brasileiro é de uma caminhada há pouco iniciada. A fração realizada pela economia brasileira é ainda menor, de apenas 5% do potencial de mudança (McKinsey, 2018)…”