Covid-19, futebol e cura por José Roberto R. Afonso e Pedro Trengrouse publicado por Revista Conjuntura Econômica (5/2020).
“Nada será como antes do coronavírus, na sociedade, na economia, nem mesmo no futebol – algo tão caro ao povo brasileiro. Não seria a hora de transformar o futebol num vetor econômico que ajude o país, ao invés de seguir financiando entidades esportivas insolventes com dinheiro público?
Walter Scheidel, professor de Stanford, na obra The great leveller, ressalta que doenças, guerras e epidemias são catalisadoras de transformações profundas e é principalmente nestes fenômenos que se reduzem desigualdades sociais, ainda que momentaneamente. Jared Diamond, historiador e antropólogo que ganhou o Prêmio Pulitzer com o livro Guns, germs and steel também reforça a tese: “doenças têm sido fatores decisivos da história”.
Temos uma oportunidade ímpar para virar o jogo em muito do nosso dia a dia, inclusive no futebol, que faz parte do arranjo produtivo e precisa ser compreendido como atividade econômica – vide fluxograma na página seguinte. Estudo da FGV realizado a pedido do governo federal apontou que a cadeia produtiva do Futebol gera 371 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no Brasil, com potencial para gerar R$ 2,1 milhões se fosse melhor estruturado.
O futebol profissional hoje é negócio de bilhões e não pode continuar sendo administrado por estruturas criadas para contar tostões. Onde tudo é de todos, nada é de ninguém. Nos países onde o futebol é bem desenvolvido há unanimidade: em regra, associação sem fins lucrativos não serve para gestão de futebol profissional. Exemplos como Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Portugal e Estados Unidos onde a esmagadora maioria dos clubes é empresa evidenciam isso. Mesmo na Espanha, onde a lei que obrigou clubes a se organizarem como empresas previu uma exceção para associações que tivessem resultado operacional positivo nos últimos anos, clubes que se mantiveram como associação pagam impostos e a diretoria é obrigada a prestar garantia financeira para a gestão, colocando seu patrimônio pessoal em jogo como se fossem os donos de uma empresa. Em uma empresa, os gestores são responsabilizados pelos seus atos e o patrimônio investido pelos sócios sofre com a má gestão, o que são grandes incentivos para a eficiência…”
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